De acordo com os resultados do estudo, da enfermeira Lívia Maria Lopes, os desempregados, por exemplo, têm quase quatro vezes mais chances de ter complicações, assim como os aposentados/do lar, que em comparação às pessoas empregadas, apresentaram sete vez mais chance de internação. Já quando se trata dos indivíduos em situação de rua, as chances de serem internados foram dez vezes maior do que os que têm moradia.
O estudo foi realizado na cidade de Ribeirão Preto e analisou, também, os dados do prontuário clínico de cada paciente que vive com HIV. Os dados revelaram que 60,7% dos que estavam internados não faziam uso da terapia antirretroviral (terapia medicamentosa para diminuir a mortalidade e promover a qualidade de vida) e 58,9% apresentavam histórico de abandono dos medicamentos antirretrovirais, enquanto entre os que não estavam internados 83,9% usavam corretamente a terapia antirretroviral, além de 83,1% ingerir corretamente os medicamentos.
Grau de escolaridade
Lívia conta que, a partir do seu estudo, pode constatar que a condição educacional está diretamente ligada à situação de saúde dessas pessoas, pois os mais estáveis, ou seja, que não tiveram complicações em função do HIV, em sua maioria, estavam melhores informados, pois eram pessoas com maior grau de escolaridade.
Com essa comprovação, Lívia avaliou o grau de escolaridade de duas formas. Primeiro, analisou de forma individual, ou seja, como ele afeta o aspecto pessoal. Nesta análise, a enfermeira notou que a baixa escolaridade interfere no quanto o paciente está informado sobre as formas de transmissão do vírus e a prevenção para o não agravamento da doença. A baixa escolaridade também interfere no conhecimento sobre a importância do tratamento e no autocuidado. Na segunda análise, Lívia avaliou o grau de escolaridade no aspecto social, o que mostrou que esse fator está ligado a ausência de fonte de renda, o que leva à epidemia da doença. Desta forma, a pesquisadora comprovou que as internações por HIV estão diretamente relacionadas com a pobreza.
Já, quando se refere às pessoas vivendo com HIV em situação de rua, Lívia explica que a ausência dos familiares e a falta de um trabalho é o que agrava esse cenário. “A decisão de estar e de permanecer em situação de rua, muitas vezes é influenciada por elementos estruturais e biográficos. Sendo assim, compreender e até mesmo enfrentar tal realidade implica no reconhecimento das condições de vida desses sujeitos e da disponibilidade dos serviços sociais existentes em cada cidade.”
O foco do problema
Quando questionada sobre o fator que mais leva à internação hospitalar, a pesquisadora é enfática ao afirmar que a ausência de suporte social a essas pessoas é o grande vilão da história. “O cuidado prestado às pessoas que vivem com HIV/Aids é complexo e não se limita a disponibilidade e oferta de ações e serviços de saúde. É necessário o empreendimento de políticas públicas capazes de promover um trabalho de qualidade, no sentido de garantir a intersetorialidade e a integração entre os diversos serviços de assistência social e de saúde pertencentes à rede assistencial com o intuito de minimizar as vulnerabilidades existentes nesse cenário de pobreza e exclusão social”.
A pesquisa avaliou pessoas que vivem com HIV/Aids, tanto em estado de internação quanto em acompanhamento nos ambulatórios da rede pública de saúde, para identificar as diferenças entre os dois grupos em relação às complicações por HIV. Por meio de entrevistas foram coletados dados sociodemográficos, características clínicas e vulnerabilidades que essas pessoas estavam expostas, sejam elas sociais ou individuais. Outra forma utilizada para avaliação foi a análise do prontuário clínico dos pacientes.
A tese “Internações por HIV: análise dos fatores associados no município de Ribeirão Preto – SP” foi defendida na EERP em setembro de 2016 e orientada pela professora Aline Aparecida Monroe.
Mais informações: liviamalopes@gmail.com
Por: Stella Arengheri.