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Homossexual jovem sofre com violência e falta de apoio

Que a população homossexual sofre incontáveis dificuldades em todos os aspectos da vida, é de conhecimento comum. Mas, essas dificuldades vão muito além daquilo que se conhece e é diariamente divulgado, especialmente com os jovens. Esse grupo ainda sofre com o acesso precário e nada eficiente das redes de apoio social – família, amigos, comunidade – que deveriam ajudá-los a enfrentar a violência que sofrem, é o que aponta pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, da terapeuta ocupacional Iara Falleiros Braga.

Outro dado que chama a atenção nos resultados da pesquisa é que, independente do sexo, todos sofreram agressões físicas em ambiente familiar ou escolar. Mas, os homens sofrem agressão física, principalmente, nos espaços públicos. E a variedade de tipos de violência sofrida pelo grupo é grande. Vai desde violência física, passa pela psicológica, sexual e até a violência autoinfligida, como pensamentos suicidas.

A pesquisa foi feita a partir de entrevistas com 12 jovens e adolescentes, com idade entre 14 e 24 anos, que passaram por algum tipo de violência.

Sentir a violência

A partir dos resultados da pesquisa, a autora fez quatro tipos de análises. A primeira discute as vivências de violência que os adolescentes e jovens entrevistados experimentaram, evidenciando-se diversos tipos de violência às quais foram expostos na vida

A segunda diz respeito à difícil experiência no processo de se assumir para a família que, por sua vez, segundo os relatos, não acredita e acusa o jovem de estar louco ou não saber o que diz.

A terceira análise discute a questão de gênero, que nesse caso é ainda mais complexa. Os meninos sofrem mais que as meninas, uma vez que a sociedade acredita que eles devem mostrar virilidade e masculinidade.

E, por último foram analisadas as fontes de apoio, que são, em sua maioria, as figuras femininas da família e os amigos que também são homossexuais, por vivenciarem situações parecidas em seus cotidianos, o que os tornam mais empáticos e solidários.

A pesquisadora lembra que situações de preconceito, opressão e tratamento diferenciado, e outras formas de exclusão, também foram relatados pelos jovens. “As consequências desse universo de violência e preconceito são os sentimentos de medo e de sofrimento, e o mais grave, as tentativas de suicídio. Um dos participantes narrou essa experiência de ideação e tentativa de suicídio, causada pelo sofrimento gerado da violência sofrida”, conta Iara.

Rede social ineficiente

A rede social é formada pela família, amigos, trabalho, estudo e comunidade e é responsável por oferecer apoio ao adolescente e jovem homossexual. É considerada de qualidade, por especialistas, quando é capaz de fornecer laços de proteção para os homossexuais, visando a garantia de seus direitos e a diminuição da vulnerabilidade às diversas formas de violência que estão expostos.

Diante desses casos, a pesquisadora diz que a rede social não foi funcional. Foi notada, também, ausência de apoio social vindo dos serviços de saúde da comunidade: “Isso demonstra a carência de ações voltadas para a promoção da saúde, para o combate à violência e de práticas de saúde focadas nas necessidades advindas dessa população”.

Relação familiar

A má relação com a família foi outro ponto bastante citado durante a pesquisa. Segundo os relatos, diante da revelação da homossexualidade, as famílias apresentaram atos violentos além de postura heteronormativa, vigiando e controlando os filhos para que tivessem uma postura heterossexual, correspondente ao sexo biológico. Uma vez que essa expectativa não era alcançada, a família expulsava o filho ou ele mesmo decidia sair de casa.

Iara conta, ainda, que, dentro dos relatos dos entrevistados, houve um que chamou muito à sua atenção, onde o jovem descreve o quanto a violência sofrida afetou e ainda afeta sua vida: “Eu tinha um ambiente ruim dentro de casa e na escola também. Eu sofria bullying bem exagerado na escola, mais os traumas que eu tinha dentro de casa, então eu tive uma infância insuportável, uma infância que eu tento apagar da minha cabeça.” O entrevistado ainda afirma que “um homossexual que aparenta ser homossexual nunca vai parar de sofrer agressão verbal e psicológica. A física vem depois, porque a agressão verbal e psicológica prejudica a parte física, porque nosso corpo é erguido e age conforme a nossa mente. Se a gente fica depressivo, nosso corpo começa a reagir também”.

Desconstrução de pensamento como solução

Para a pesquisadora esse quadro só vai melhorar quando alguns pontos receberem atenção especial, como o combate a homofobia, e os profissionais de saúde atenderem livre de preconceitos e julgamentos e dentro de políticas públicas voltadas ao público LGBT.

Além disso, Iara é enfática ao dizer que na sociedade há grande necessidade de questionamento pessoal e desconstrução do pensamento de obrigatoriedade da heterossexualidade. Ela afirma, ainda, que enquanto isso não acontecer não vai ser possível avançar e transformar a realidade de violência, invisibilidade e aprisionamento da população homossexual.

A tese “Quem é homossexual carrega consigo o fardo do preconceito: violências contra adolescentes e jovens homossexuais e a rede de apoio social” foi defendida na EERP em março deste ano e orientada pela professora Marta Angélica Iossi Silva.

Mais informações: iarafalleiros@usp.br

Por: Stella Arengheri.
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